segunda-feira, 28 de junho de 2010

Home Sweet, Home - Dia 10


Adaptada. Acho que é essa a palavra. Depois de uma semana, depois de ter feitos amigos de todos os lugares do mundo... Depois de fazer nossa amiga tcheca entender o significa "severinar", depois de ensinar nosso amigo edward a dançar forró, depois de explicar a nosso amigo italiano que nem toda brasileira sabe sambar... Depois de levar nossa amiga japonesa pra assistir o jogo do brasil, comer feijoada e balançar nossa bandeira... Acho que posso dizer que me sinto mais em casa. Estou me sentindo super bem, estou muito feliz.


Quando eu tinha os meus 4 anos, chorava litros porque meu cabelo não era escorrido como o da minha mãe. Durante a minha adolescência não sabia o que fazer com os meu cachinhos... mas eu agradeço a Deus por eles hoje. Eu não sou negra, não sou branca, meu cabelo não é ruim, nem bom. Eu sou uma mistura... e por mais que tenha gente do mundo inteiro aqui, parece que eles não se misturam. Isso faz com que eu chame meio que atenção, o que dizem por aqui é que eu sou a "típica mulher brasileira"! Hahaha. As minha colegas passam por européias, mas qualquer pessoa que vem falar comigo pergunta: "where are you from?" Todo mundo sabe que eu não sou daqui. Está escrito no meu rosto. Nunca me senti tão brasileira.


Fiz muitos amigos essa semana. Conheci um inglês que foi trabalhar na África pela UNICEF ajudando a construir escolas e tals. Erika disse que agora ele é meu ídolo! Ele até me ensinou como que faz pra ser chamada nessas campanhas! Fomos na casa de uma família inglesa, fizeram um "barbecue" só pra gente! Fizemos amigos poloneses que falaram da cor da minha pele, e do meu curly hair. Amigas coreanas, milhares! Elas são lindas e gostaram da minha blusa do Brasil. Tenho um amigo turco, conheci um mohammed, tem a Nara da mongólia... Caramba. Eu sempre sonhei com algo assim... como estou amando tudo isso, vou sentir tanta saudade... Quer uma dica? Se você quiser conhecer o mundo inteiro e só poder viajar para um lugar, venha para Londres.



segunda-feira, 21 de junho de 2010

Dia 3 - Alien


"Alguma coisa acontece no meu coração (...)
É que quando eu cheguei por aqui, eu nada entendi..."


A gente só está aqui há três dias, mas aconteceu tanta coisa, que parece que passaram semanas. Andamos de ônibus, de metrô, pegamos o metrô errado, nos perdemos, nos encontramos, fomos no Hyde Park, levei carreira de esquilo, fomos em Notting Hill, na Oxford Street, na Portobello Road... Fizemos a feira, compramos lembracinhas, lanchamos, cansamos, subimos e descemos um milhao de escadas.


É tanta coisa para ver que minhas retinas não dão conta. Nem a minha mente. Tudo é lindo aqui, as mulheres parecem barbies, os caras parecem artista e os bebês são todos da johnson! Pelo menos na área que a gente está morando... Quando fomos pra Oxford Street fiquei encantada com a diversidade desse lugar! Ingleses, Chineses, Indianos, Negros, Árabes... E perceba, é diverso mas não é misturado. Chines é CHINES. Indiano é indiano. Não é como aqui no Brasil, três em um. Meu Deus, eu me sinto um Alien. Não existe ninguém parecido comigo, ninguém mestiço como eu , até porque muito dos brasileiros daqui, se confudem com os ingleses.


Mas o pior, foi ir assistir o Jogo do Brasil. Primeiro, era JOGO DO BRASIL e as pessoas continuavam suas vidas normais. COMO ASSIM? Tem que parar TUDO. Segundo, foi bola fora ir num PUB e só depois descobrir que todos estavam torcendo pela Costa do Marfim... Terceio: cadê meu pai narrando o jogo? Cadê a gordinha comentando? Minha mãe rindo? Tão estranho. Pra vocês terem noção, senti falta até do Galvão!


Ah, Depois de dois dias de fast food, finalmente encontramos um restaurante Brasilero em conta: FEIJODA + GUARANA. E na minha sala tem um Argelino, três koreanas, um italiano, um carinha de andorra... e o resto ainda vou descobrir. Meu professor de gramática é um velhinho chato, mas o de conversação é legal. O nome dele é algo tipo "kahal", ele me chama de "Iniline". Hahaha. Ai! Como é estranho ser "diferente" ... mas dizem que London is a roost for every bird. Bem, tomara que sim!

Beijo!

sábado, 19 de junho de 2010

Dia 1 : Contornando a Imensa Curva...


Muita coisa aconteceu ontem. Muitas coisas acontecem sempre apesar da nossa vida e dos nossos planos. Ontem, foi o dia do nosso voo, foi o dia em que Saramago morreu, foi aniverário de Polyana e a alemanha perdeu! (UFA). Apesar de ficar triste pela morte de saramago e passar a viagem inteira desejando feliz aniversario para Poly, meu coração estava mesmo no avião. Contornando uma imensa curva. Não sei de onde até onde.


Tem gente que não gosta de voar de avião. Confesso que quando a gente vai puxando a malinha e subindo a rampa pra entrar na aeronave dá um frio na barriga! Quando ele tá decolando também... quando tá aterrisando, quando tá lá em cima... mas enfim. É o máximo. Passei praticamente 10 horas voando pra chegar! O "trânsito" aereo estava congestionado e precisamos ficar fazendo hora no céu antes de "estacionar" Hahaha. Mas a viagem foi muito divertida. A ansiedade era tanta que engoli o chocolate quente de vez na salinha do embarque e queimei minha lingua ( até agora sinto as papilas ardendo! hahaha) . Quando sentamos , fiquei 30 min catucando o controle remoto para descobrir como ligar a TV. Assisti três filmes, ouvi todas as estações do radio, vi desenho animado, comi... mas a parte mais emocionante, foi lá pra 23:00 quando sobrevoamos a AFRICA! Eu passei por cima de Cabo Verde, Casablanca! E lá estava ela, linda lá embaixo, brilhando pra mim. Eu puxei a cordinha e gritei: PARADA DESCE! Mas parece que ninguém me ouviu. Eu nunca imaginei que a primeira vez que eu visse seria assim, de passagem. Brilhando no escuro...

Quando a gente passa 10 horas voando e ESQUECE de levar um livro, a gente passa muito tempo pensando. E eu estava tão feliz que até nos meus piores pensamentos: E se o avião cair/ e se cair na costa africana com tubaroes/ e se morressemos todos - eu ainda estava no lucro. Indo prum lugar ainda melhor que Londres...


Quando eu vi recife pequeniniha lá embaixo, deu aperto no peito e saudade
Quando eu vi a áfrica pequenininha lá embaixo deu aperto no peito e vontade
Quando vi a inglaterra lá embaixo... parecia que a paisagem tinha saído de algum livro que eu li, de algum filme que eu vi... e que agora estava vivendo. Saramago disse que a gente sempre chega onde esperam por nós... Na verdade eu nem sei o que espera por nós aqui. Mas o pouco que eu sei é suficiente pra mim agora: Graças graças a Deus, CHEGAMOS.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Despedida?

Caducos do meu coração, sexta agora vou estar viajando! Vou passar um mês fora. Não sei se vou ter tempo pra postar músicas, videoclips, textinhos legais e afins. Não sei se vou ter tempo pra filosofar aqui. Acho que durante esse período se eu aparecer, provavelmente O Mundo Caduco vai se tornar um diário de bordo, com fotos, vídeos e impressões da viagem. Espero que vocês não se importem. Final de julho volta tudo ao normal.

Beijo!



sábado, 12 de junho de 2010

A Receita do Bolo

Quando você chegar, não venha correndo. Não bata a porta. Não jogue a chave em cima da mesa. Não seja bruto. Não tenha pressa. Seja sutil, por favor - que eu sou muito assustada. Venha de mansinho, tire os sapatos, chegue na ponta dos pés. Não ascenda a luz. Não me acorde. Não me deixe perceber que você está aqui. Não seja descarado. Lembre sempre que eu sou subjetiva demais... Me deixe desconfiando da sua existência e as vezes finja não se importar. Eu preciso não saber. Eu preciso duvidar. A verdade é que sou covarde, e evito tudo aquilo que desconheço. Preciso de tempo para me acostumar. Não seja precipitado, não me faça fugir. Também não demore tanto, como se tivessemos todo tempo do mundo. Quando eu estiver virando as costas para ir embora, apareça. Me impeça. Me deixe descobrir como eu quero você. Não faça as malas. Não venha se estiver só de passagem. Nunca durma chateado comigo. Me inclua nos seus planos. Faça planos comigo. Não me deixe em segundo plano. E tenha a certeza de que vou querer fazer de tudo para te agradar, quando você chegar, meu amor.

 

And walking arm in arm
You hope it don't get harmed
But even if it does
You'll just do it all again

quarta-feira, 9 de junho de 2010

terça-feira, 8 de junho de 2010

Coldplay's Prayer



Oh God I can't, I can't get through
I've been trying hard to reach You
Cos I don't know what to do
Oh God I can't believe it's true
I'm so scared about the future and
I want to talk to You, oh I want to talk to You

You can take a picture of something You see
In the future where will I be?
You can climb a ladder up to the sun
Or write a song nobody has sung, or do
Something that's never been done?



Eu vivo tão ansiosa com relação ao futuro,
enquanto devia deitar tranquila e deixar Você
me fazer mais uma das suas lindas surpresas
Porque Você é um Deus bom e surpreendente.
E é sempre muito bom poder falar com Você...

sábado, 5 de junho de 2010

Um Sopro de Vida


"Saber desistir. Abandonar ou não abandonar — esta é muitas vezes a questão para um jogador. A arte de abandonar não é ensinada a ninguém. E está longe de ser rara a situação angustiosa em que devo decidir se há algum sentido em prosseguir jogando. Serei capaz de abandonar nobremente? ou sou daqueles que prosseguem teimosamente esperando que aconteça alguma coisa?"


- Clarice Lispector

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Ao Cadáver Desconhecido



Há quem diga que os médicos tornam-se pessoas frias, calculistas, acostumadas com o sofrimento e com a morte. Como se médico não se envolvesse, não chorasse. Como se médico estivesse acima dos reles sentimentos humanos, distante, nas alturas se auto-intitulando semideus. Como se a doença e a morte nunca batessem na sua porta... Eu sei que parte desse conceito é culpa deles, mas fiquem sabendo que é tudo uma grande mentira.


O que acontece é que temos a morte como nossa professora. Ela se faz bem presente desde o início da nossa formação. Durante as aulas de anatomia, nos amontoamos todos ao redor de um cadáver, identificamos estruturas e realizamos procedimentos: Dissecamos, suturamos, intubamos, puncionamos... carregamos o seu coração com as nossas mãos. E depois disso ainda o chamamos de desconhecido! Tsc Tsc Tsc. Engraçado que no começo da faculdade, estamos mais acostumado com o cadáver do que com a vida. O paciente "de verdade" a princípio nos assusta. E chega até a ser irônico que a própria morte nos ensine a salvar vidas. A morte nossa inimiga, a morte nossa professora. Nunca vou entendê-la.

Depois de 2 anos, nos econtrando semanalmente com ela num laboratório de anatomia, finalmente vamos para o hospital. E mais cedo ou mais tarde, infelizmente acabamos descobrindo que ela também está lá. E que ela não acomete só "indigentes"... mas pode levar uma senhorinha que lembrava a sua avó, um bebê ( que você queria ter...), um jovem adulto. Você. Eu. Somos todos suceptiveis. Estamos todos vulneraveis. E é muito mais difícil encarar a morte desse jeito... por isso alguns médicos fingem que a vida é uma grande laboratório de anatomia, branco e gelado - e que as pessoas são todos grandes 'desconhecidos'. Não é todo mundo que tem estômago para ter tantos encontros com ela e ainda assim continuar cheio de vida. Não estou justificando, estou explicando. Nada justifica. Na verdade, todo mundo sabe que medicina é desgastante. E como já dizia o filósofo "se não guenta pra que veio"? Mas pra quem prefre tratar as pessoas como peças anatômicas ... o IML tá pagando bem... bom ficar por lá.


'Ao curvar-te com a lâmina rija de teu bisturi sobre o cadáver desconhecido,
lembra-te de que este corpo nasceu do amor de duas almas
cresceu embalado pela fé e esperança daquele que, em seu seio,
o agasalhou, sorriu e sonhou os mesmos sonhos das crianças e dos jovens, por certo
amou e foi amado e sentiu saudades dos outros que aprtiram, acalentou um amanhã feliz
e agora jaz na fria lousa, sem que, por ele, se tivesse derramado uma lágrima sequer,
sem que tivesse uma só prece. Seu nome só Deus o sabe, mas o destino
inexorável deu-lhe o poder e a grandeza de servir à humanidade que
por ele passou indiferente'

Karl Rokitansky

* paciente faleceu hoje no plantão...

terça-feira, 1 de junho de 2010

Gare de Astapovo




O velho Leon Tolstoi fugiu de casa aos oitenta anos
E foi morrer na gare de Astapovo!
Com certeza sentou-se a um velho banco,
Um desses velhos bancos lustrosos pelo uso
Que existem em todas as estaçõezinhas pobres do mundo
Contra uma parede nua...
Sentou-se ...e sorriu amargamente
Pensando que
Em toda a sua vida
Apenas restava de seu a Gloria,
Esse irrisório chocalho cheio de guizos e fitinhas
Coloridas
Nas mãos esclerosadas de um caduco!

E entao a Morte,
Ao vê-lo tao sozinho aquela hora
Na estação deserta,
Julgou que ele estivesse ali a sua espera,
Quando apenas sentara para descansar um pouco!
A morte chegou na sua antiga locomotiva
(Ela sempre chega pontualmente na hora incerta...)
Mas talvez não pensou em nada disso, o grande Velho,
E quem sabe se ate não morreu feliz: ele fugiu...
Ele fugiu de casa...
Ele fugiu de casa aos oitenta anos de idade...
Não são todos que realizam os velhos sonhos da infância!

Mario Quintana

Felicidade


Ser feliz é uma responsabilidade muito grande. Pouca gente tem coragem. Tenho coragem mas com um pouco de medo. Pessoa feliz é quem aceitou a morte. Quando estou feliz demais, sinto uma angústia amordaçante: assusto-me. Sou tão medrosa. Tenho medo de estar viva porque quem tem vida um dia morre. E o mundo me violenta.

- Clarice Lispector




Porque convém que isto que é corruptível
se revista da incorruptibilidade,
E que isto que é mortal se revista da imortalidade.
Onde está, ó morte, a tua vitória?
Onde está, ó morte, o teu aguilhão?



Clarice, felicidade é presente de quem venceu a morte pra quem não precisa mais temê-la :)