sábado, 26 de fevereiro de 2011

Qual o propósito?


There is one thing in this world that you must never forget to do. If you forget everything else and not this, there is nothing to worry about; but if you remember everything else and forget this, then you will have done nothing in your life. It is as if a King has sent you to some country to do a task, and you perform a hundred other services, but not the one He sent you to do. So human beings come to this world to do particular work. That work is the purpose, and each is specific to the person. If you do not do it, it is as though a  priceless Indian sword were used to slice rotten meat. It is a golden bowl being used to cook turnips, when one filing from the bowl could buy a hundred suitable bowls. It is a knife of the finest tempering nailed into a wall to hang things on.

From “The Real Work,” by Persian poet and
mystic Jalal ad-Dın Muhammad Rumi,
aka Rumi (1207–1273)

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Obsessivo-Compulsivo



Para tantas perguntas que eu não sei responder
E para aquelas que nem sei fazer ainda
Para não cometer os erros que eu vejo
Para ser como aqueles que eu admiro
Para o bem dos meus pacientes
E para o meu próprio bem
Para um amanhã tranquilo

Estudar, Estudar, Estudar (...)

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Devocional: Cold Play, The Scientist

                      
Come up to meet You, tell You I'm sorry
I don't know how lovely You are
I had to find You, tell you I need You
Please tell me You set me apart
Tell You my secrets, And ask you my questions
Oh let's go back to the start


Running in circles, Coming in tails
Heads on a science apart
Nobody said it was easy
It's such a shame for me to part
Nobody said it was easy
No one ever said it would be this hard
Oh take me back to the start


I was just guessing at numbers and figures
Pulling the puzzles apart
Questions of science, science and progress
Don't speak as loud as Your heart
And tell me You love me, Come back and haunt me

Oh when I rush to the start

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Contratransferência


Ele era de poucos sorrisos. Na verdade tinha sempre no rosto uma expressão bastante séria. Tinha dois olhos negros hipnotizantes. Um olhar angustiado e profundo, tão profundo, que me intrigava e me fazia querer advinhá-lo. Ele me cativava. Queria sempre saber como ele estava, o que lhe havia acontecido. Ouvir seu coração. As vezes até acordá-lo. Sempre abusado. Sempre cansado. Cansado de quê? De tanta coisa. Cansado da vida talvez. E ele não tinha nome. Nem ninguém - Mentira, ele tinha a mim - Na verdade até tinhamos muito em comum, eu acho. Ele não tinha mãe. E eu? Eu não tinha um bebê (...) 

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Rx : Esperança




Engraçado. Nos primeiros anos do curso, quando todo contato que eu tinha com o paciente se limitava às consultas no PSF e visitas domiciliares, parecia que todas as doenças do mundo se resumiam à hipertensão, diabetes, resfriado comum e verminoses. Tá, tô exagerando. Mas vocês vão entender. Depois, no ambulatório, o que todo mundo tinha era hernia ou litiase biliar - e todas as crianças queriam ser encaminhadas ao oftalmo - Conduta: Ao oftalmologista. Todo mundo era feliz, ou quase isso. A quota de sofrimento com a qual eu tinha lidar era mínima. Tudo azul.

Mas nos últimos meses rodando na enfermaria e nas emergências da vida, eu tenho sido impactada com a Dor. A dor de ter um membro amputado. A dor de um tiro. A dor do desespero. De não conseguir respirar. De não conseguir se levantar. A dor dos velhinhos que vêm lá das brenhas e nem sabem o que têm. A dor do coração que vai morrendo ST. De um filho que perde o pai. Da mulher que saiu do hospital sem o marido. A dor da mãe que vê o berço vazio. A dor da criança intocável, enfaixada cheias de bolhas espalhadas pelo corpo. A dor do abandono. A dor de não ter cura. A dor por dizer adeus antes da hora. A dor de não conseguir fazer voltar. A dor de quem sabe.A dor de quem não sabe....

E o que me parece é que sempre sofre mais quem menos tem. Meu Deus, quanto sofrimento. As vezes eu tenho a sensação de que a queixa principal do mundo é uma dor intensa em aperto no peito há muitos anos. Que não melhora com nada e piora com qualquer coisa. Então como se conduzir? Como conduzir  isso tudo? Deviam fazer um protocolo pra essas coisas...

Rx

Dá-me para a minha vida
todas as vidas,
dá-me toda a dor
de toda a gente,
vou transformá-la
em esperança.
Dá-me
todas as alegrias,
mesmo as mais secretas,
porque se assim não for
como as conheceremos?


Queria os super-poderes de Neruda

* Rx = Receito

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Invisível

O homem invisível


Eu rio-me
Sorrio-me
dos velhos poetas,
adoro toda a poesia escrita,
todo o orvalho,
lua, diamante, gota
de prata submersa,
que foi o meu antigo irmão,
incluindo a rosa,
mas sorrio-me
sempre que falam
dizem "eu",
sempre que algo
lhes acontece
é "eu" que dizem,
nas ruas só eles passam
ou a amada,
ninguém mais,
não passam pescadores,
nem livreiros,
nem pedreiros,
dos andaimes
ninguém cai,
ninguém sofre,
ninguém ama,
somente ao meu pobre irmão,
o poeta,
todas as coisas
lhe acontecem,
a ele e à sua amada,
ninguém existe
senão ele,
ninguém chora de fome
ou de raiva,
ninguém sofre nos seus versos
por não poder
pagar a renda da casa,
a ninguém em poesia
dão ordens de despejo
e nas fábricas
nada acontece,
nada se passa,
fazem-se guarda-chuvas, copos,
armas, locomotivas,
extraem-se minerais
escavando o inferno,
declara-se a greve,
vêm os soldados
e disparam,
disparam contra o povo,
quer dizer
contra a poesia,
e meu irmão
o poeta
estava apaixonado,
ou sofria,
porque os seus sentimentos
são marinhos,
ama os portos
longínquos, pelos seus nomes,
e escreve sobre oceanos
que não conhece,
junto à vida, repleta
como uma espiga de milho,
ele passa sem saber
como debulhá-la,
anda dum lado para o outro
sem tocar no chão,
ou sente-se às vezes
profundíssimo
e tenebroso,
é tão importante
que não cabe dentro de si,
enreda-se e desenreda-se,
declara-se maldito,
leva a cruz das trevas
a muito custo,
julga-se diferente
de toda a gente,
todos os dias come pão
mas nunca viu
um padeiro
ou entrou num sindicato
de padeiros,
e assim o meu pobre irmão
torna-se obscuro,
acha-se bizarro,
bizarro,
é a palavra,
eu não sou superior
ao meu irmão
mas sorrio-me,
quando ando pelas ruas
torno-me ignorado,
a vida corre
como todos os rios,
eu sou o único ser
invisível,
não há sombras misteriosas,
não há trevas,
toda a gente me fala,
me conta coisas,
falam-me das suas famílias,
das suas misérias
e das suas alegrias,
todos ao passarem
me dizem algo,
e as coisas que fazem!
cortam madeiras,
fazem ligações eléctricas,
amassam toda a noite
o pão de cada dia,
com uma lança de ferro
rasgam as entranhas
da terra
e transformam o ferro
em fechaduras,
sobem ao céu e levam
cartas, soluços, beijos,
em cada porta
há alguém,
a cada momento
alguém nasce,
ou me espera aquela que eu amo,
passo e as coisas
pedem-me que as cante,
o tempo não me sobra,
tenho de pensar em todas as coisas,
regressar a casa,
passar pelo Partido,
que hei-de eu fazer,
tudo me pede
que fale,
tudo me pede
que cante, cante sem parar,
tudo está repleto
de sonhos e de sons,
a vida é uma gaiola
cheia de cantos, abre-se
e uma bandada
de pássaros
voando
vem falar comigo,
pousa nos meus ombros,
a vida é uma batalha
igual a um rio que corre
e os homens
querem dizer-me,
querem dizer-te,
porque lutam,
se morrem,
porque morrem,
e eu passo e não tenho
tempo para tantas vidas,
eu quero
que todos vivam
na minha vida
e cantem no meu canto,
eu não tenho importância
nem tempo
para os meus assuntos,
de noite e de dia
tenho que apontar tudo o que se passa,
e não esquecer ninguém.
É certo que de repente
me canso,
fico a olhar as estrelas,
estendo-me na relva, passa
um insecto cor de violino,
pouso o braço
sobre um pequeno seio
ou enlaço a cintura
da minha amada,
e vejo o veludo
cruel
da noite que estremece
com as suas constelações geladas,
então
sinto subir à minha alma
a onda dos mistérios,
a infância,
o pranto dos recantos,
a adolescência triste,
e o sono invade-me,
durmo
como uma macieira,
fico adormecido
repentinamente
com as estrelas ou sem as estrelas,
com o meu amor ou sem ele,
e quando me levanto
já a noite se desvaneceu,
e a rua acordou antes de mim,
a caminho do trabalho
vão as raparigas pobres,
os pescadores voltam
do mar,
os mineiros
entram na mina
de sapatos novos,
tudo vive,
todos passam,
andam apressados,
e eu apenas tenho tempo
para me vestir,
para sair correndo:
ninguém pode
passar sem que eu saiba
para onde vai, ou que coisas
lhe aconteceram.
Não posso
viver sem o afã da vida,
sem o homem ser homem
e corro e vejo e ouço
e canto,
as estrelas não têm
nada a ver comigo,
a solidão não tem
flor nem fruto.
Dai-me todas as vidas
para a minha vida,
de todo o mundo
as suas dores,
e eu transformarei tudo
em esperança.
Dai-me todas as alegrias,
mesmo as mais secretas,
porque se assim não fosse,
como as saberíamos?
Eu tenho que as contar,
dai-me
a luta
de cada dia
porque elas são o meu canto,
e assim andaremos sempre juntos,
lado a lado,
todos os homens
reunidos no meu canto:
o canto do homem invisível
que canta com todos os homens.

in Odes Elementares