".... Seria o ocaso mais bucólico que o amanhecer? Afinal,
estamos falando do mesmo evento que ocorre de maneira contrária. Como um
espelho, imagem real e invertida. Será que à tarde estamos mais sensíveis após
um dia inteiro de labuta e a descida do sol leve com ela nossas angústias. Acho
que não, há tempos que o ciclo claro-escuro deixou de marcar o começo e o fim
de nossos dias, e isso tem deixado nossa pituitária e seu hormônio melatonina
“loucos” no controle do ritmo circadiano - é, meu caro leitor, não são só as
plantas que precisam de luz para sobreviver. Afinal, desde a invenção do
relógio que a coincidência dos ponteiros às zero horas é que têm marcado a
transição de nossos dias.Mas se não são nossos problemas
que estão sendo levados com fim de mais um dia, será que nosso fascínio provém
de termos observado a cada dia menos o nascer do sol que o “morrer” do sol,
afinal a cada dia dormimos mais tarde, e acordamos mais atrasados. Talvez não, afinal, enclausurados dia após
dia em nossas edificações, não temos mais, igualmente, conseguido observar o
poente. Em verdade, a cada dia estou mais
convencido de que a beleza do pôr-do-sol resida nos nossos sentidos. Os
sentidos – no caso a visão – são instrumentos biológicos que nos ligam ao mundo
“real” através de estímulos elétricos. Sim, o poente tem um brilho maior porque
ao final do dia maior quantidade de poeira se encontra em suspensão na
atmosfera, e a incidência dos raios, iluminando essas partículas (a sujeira de
outrora) confere a esse momento uma cor laranja-avermelhada, simplificada por
Djavan como Lilás. Seja como for, o que eu sei é que
“eu quero é ver o pôr-do-sol, lindo como ele só”, esse raro espetáculo
cotidiano da natureza que nos deixa em conexão direta com Deus, para que em meu
Epitáfio não esteja escrito: “devia ter complicado menos, trabalhado menos, ter
visto o sol se pôr...”.
Bruno Pessoa
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