quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Pôr-do-Sol



"....  Seria o ocaso mais bucólico que o amanhecer? Afinal, estamos falando do mesmo evento que ocorre de maneira contrária. Como um espelho, imagem real e invertida. Será que à tarde estamos mais sensíveis após um dia inteiro de labuta e a descida do sol leve com ela nossas angústias. Acho que não, há tempos que o ciclo claro-escuro deixou de marcar o começo e o fim de nossos dias, e isso tem deixado nossa pituitária e seu hormônio melatonina “loucos” no controle do ritmo circadiano - é, meu caro leitor, não são só as plantas que precisam de luz para sobreviver. Afinal, desde a invenção do relógio que a coincidência dos ponteiros às zero horas é que têm marcado a transição de nossos dias.Mas se não são nossos problemas que estão sendo levados com fim de mais um dia, será que nosso fascínio provém de termos observado a cada dia menos o nascer do sol que o “morrer” do sol, afinal a cada dia dormimos mais tarde, e acordamos mais atrasados.  Talvez não, afinal, enclausurados dia após dia em nossas edificações, não temos mais, igualmente, conseguido observar o poente. Em verdade, a cada dia estou mais convencido de que a beleza do pôr-do-sol resida nos nossos sentidos. Os sentidos – no caso a visão – são instrumentos biológicos que nos ligam ao mundo “real” através de estímulos elétricos. Sim, o poente tem um brilho maior porque ao final do dia maior quantidade de poeira se encontra em suspensão na atmosfera, e a incidência dos raios, iluminando essas partículas (a sujeira de outrora) confere a esse momento uma cor laranja-avermelhada, simplificada por Djavan como Lilás. Seja como for, o que eu sei é que “eu quero é ver o pôr-do-sol, lindo como ele só”, esse raro espetáculo cotidiano da natureza que nos deixa em conexão direta com Deus, para que em meu Epitáfio não esteja escrito: “devia ter complicado menos, trabalhado menos, ter visto o sol se pôr...”.
Bruno Pessoa

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