quinta-feira, 25 de março de 2010

Medthinking

Acho muito bonito quem pode dizer que sempre quis ser alguma coisa. Eu não sou tão constante assim - não que eu não soubesse o que queria ser, meu problema sempre foi querer ser todas as coisas. E eu não acho que a gente nasce predestinado a ser "tal coisa" ou é condenado a viver infeliz e insatisfeito pra sempre. Acho que é a gente que escolhe, é uma decisão que a gente toma... tipo casar. E eu acabei escolhendo medicina. E quando a gente escolhe medicina,todo mundo fica feliz e orgulhoso por que é lindo e maravilhoso e tal.

Mas quando a gente chega na metade do curso (sim, estou mais perto do fim do que do começo!) a gente começa a ter uma visão mais real da coisa e percebe que médico tem uma vida de cão. Primeiro que todo mundo acha que por você fazer medicina, já sabe tratar tudo, a causa de todas as doenças e o porquê de todas as coisas que acontecem no corpo humano (quem se importa se você é 1º período?). Daí você começa a ir pro PSF e o médico te acha um atraso na vida dele porque você não sabe prescrever, nenhum remédio de verme sequer. Aí a gente cresce passa a ir pro hospital e dar plantão. Descobrimos a existência da escala: Staff, R2, R1, Doutorandos, Enfermeiras e você na base da cadeia alimentar - o acadêmico. Você estuda, estuda, estuda, estuda, mas nunca é suficiente e todo mundo espera que você já saiba das coisas. Quando você é promovido a doutorandando passa 2 anos tendo que agir como médico e office boy at the same time! A gente passa 6 anos estudando pra no final "ser médico" não ser suficiente e você precisar ser mais alguma coisa (fazer uma residência) - o que vai custar mais alguns 2,3,4,5 ou 6 anos de trabalho escravo, residindo no hospital, passando noites e noites acordado e recebendo MUITO MAL. Ê lerÊ!

Pois é. É difícil, eu sei que vai ficar pior. Eu sei que poderia ter escolhido outra coisa. Sei que poderia ser feliz de outro jeito também. Mas eu amo tudo isso. São 2h da manha e cheguei do plantao. Como eu me sinto? Realizada.

4 comentários:

  1. Eu tenho a teoria de que o pessoal da área de medicina, em média, é o pessoal mais apaixonado e realizado dentro da profissão, onde o pessoal fala com mais paixão do que faz.
    Tem um quê de romantismo nisso tudo que eu acho massa :D

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  2. Nós, meros estudantes de medicina, somos aquele dilema do semi-Deus.. ora somos idolatrados, ora somos massacrados. Pq não nos tratam como meros mortais!?!?!
    Adolescentes: jovens demais e impotentes pra fazer certas coisas, adulto demais para já ter capacidade de cumprir nossas responsabilidades...

    Acredito que somente quem realmente tá no local certo, sente essa realização. Mesmo em dias de cão, enfrentando N coisas de cortar o coração...
    A parte legal de trabalhar no que gosta é essa: egoisticamente e romanticamente felizes por nos sentirmos ÚTEIS.

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  3. Diria Fernando Figueira que o médico que sabe só medicina sabe muito pouco, e você parece fazer questão de esfregar na cara de todo mundo que sabe muito mais do que apenas ser estudante de medicina.

    Me sinto reconfortado em saber que o mundo ainda conta com pessoas como você :)

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  4. Mentira que Léo citou #FF né?

    Nine, vamos casar e ter filhos judeus.

    Beijo.

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